Com cerca de 28% da população adulta totalmente vacinada, número de mortes felizmente em queda, mas ainda alto, e a perspectiva do surto da variante delta em setembro, devemos ter cuidado e juízo até para evitar necessidade de voltar a quarentenas mais rígidas.
Após um ano e meio do início das sucessivas quarentenas para conter a pandemia do novo coronavírus, vive-se no Brasil relativo otimismo. Não há UTIs lotadas com pacientes definhando à espera de um leito, e os números diários de mortes por Covid-19, embora ainda altos com centenas de vidas perdidas a cada 24 horas, saíram dos assustadores quatro dígitos seguem em queda.
Diante disso, já é possível vislumbrar um futuro, em médio prazo, ao menos próximo da normalidade, com as cenas de tristeza profunda e horror deixadas para trás. Com todo o aprendizado adquirido ao longo desse tempo, apesar do muito que ainda não se sabe, parece haver a possibilidade de retomada de inúmeras atividades desde que adotados os protocolos corretos. No entanto, nada autoriza o abandono dos cuidados básicos e as medidas chamadas não farmacológicas, únicas realmente eficazes para conter a transmissão do vírus, como o uso de máscaras de qualidade, o distanciamento e a higienização.
No atual quadro, o que não tem cabimento algum é a promoção de aglomerações e a lotação de ambientes fechados diante da expectativa de surto neste mês de setembro de uma cepa do vírus 60% mais contagiante que as surgidas anteriormente e que pode ser transmissível inclusive em locais abertos e ventilados, conforme apontam estudos disponíveis até agora. Entre esses, o documento interno do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), divulgado em julho último, segundo o qual a delta é mais contagiosa que os vírus causadores de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), ebola, resfriado comum, gripe sazonal e varíola, equiparando-se ao que provoca a catapora.
A grande boa notícia do momento atual é a vacinação da população, que, iniciada de forma absolutamente lenta e descoordenada, entrou em ritmo correto. No entanto, é preciso ter em mente que apenas cerca de 28% dos adultos receberam as duas doses obrigatórias ou a única. Como foi amplamente divulgado, só o esquema de imunização completo garante a eficácia revelada pelos estudos. Além disso, também exaustivamente divulgado, nenhuma das vacinas impede a transmissão. Todas elas têm, em níveis variados, poder de impedir que as pessoas adoeçam, especialmente de forma grave, ou venham a óbito.
Assim, num cenário de uma variante que se espalha com extrema facilidade, a negligência com as cautelas que sabemos serem imprescindíveis pode colocar todo o avanço conquistado até agora a perder. Tenhamos paciência e responsabilidade.
Murilo Pinheiro – Presidente FNE
FONTE: FNE