A comemoração do Dia da Consciência Negra é um ótimo momento para a reflexão sobre a odiosa discriminação ainda presente no Brasil; as ações para dar fim a essa tragédia precisam estar na agenda efetiva do País, cotidianamente, até que ela passe em definitivo à história.
O 20 de novembro deste ano, quando se comemora o Dia da Consciência Negra, foi marcado por inúmeras excelentes iniciativas, que lançaram luz sobre o tema da discriminação e do racismo estrutural que exclui da plena cidadania a parcela majoritária do País, formada por pretos e pardos.
Também na pauta desses debates o enorme potencial de empreendedorismo e desenvolvimento desperdiçado pela sociedade brasileira ao alijar mais da metade de seus cidadãos de oportunidades plenas de criar, investir e prosperar.
É nessa tônica que se inclui a ainda pequena representatividade negra nos cursos de engenharia e no exercício da profissão, observada empiricamente, já que dados confiáveis a respeito são escassos, como aponta o conteúdo especial produzido pelo portal do SEESP, que traz ainda entrevistas com duas engenheiras e uma estudante. Os relatos têm uma constante: as três se veem como ínfima minoria nessa área ainda esmagadoramente branca e masculina e precisam vencer obstáculos excessivos para conquistar um lugar e ascender na carreira.
A situação se dá apesar do avanço escolar de mulheres e negros. Em 2018, por exemplo, pretos e pardos tornaram-se maioria entre os matriculados no ensino superior público, mas não nos classificados “curso de elite”, entre os quais a engenharia. Esta é uma realidade que precisa mudar. Não só é preciso garantir oportunidades a negros e mulheres, como o País não pode abrir mão de metade da sua população na profissão essencial ao desenvolvimento e à solução dos muitos problemas da atualidade e do futuro.
Lamentavelmente, as perspectivas não são animadoras para o futuro próximo, pois, neste período pandêmico em que cresceram o desemprego, a pobreza e a fome, reduziu-se drasticamente a participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que dá acesso às universidades públicas. Foram cerca de 3 milhões de inscritos, o menor número desde 2005. Conforme especialistas, entre o fechamento das escolas e ensino mais precário em 2020 e 2021 e maiores dificuldades financeiras das famílias, milhões de jovens, muitos deles negros, ficaram fora da seleção que teve início no domingo (21/11).
É preciso, portanto, que o Estado, as universidades, as empresas e a sociedade civil atuem para mudar as estatísticas que hoje apontam para uma desigualdade racial crescente, com aumento de desemprego e pobreza entre os negros, conforme estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado na sexta-feira (19/11). Em resumo, o trabalho mostra que, para pretos e pardos, desemprego e subutilização são maiores; rendimento são menores; presença em cargos de direção é mais reduzida; e o trabalho desprotegido é mais frequente.
Combater o racismo, além de promoção de justiça social elementar e reparação histórica, é medida essencial para que avancemos como sociedade, não só do ponto de vista ético, mas também socioeconômico e cultural. O País precisa da contribuição de todos os brasileiros. Para tanto, é preciso que haja oportunidades iguais.
Eng. Murilo Pinheiro – Presidente FNE