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Engenharia ao enfrentamento da questão climática

09/11/2021

Valorizar a ciência e garantir protagonismo da categoria estão na ordem do dia para que Brasil caminhe rumo à sustentabilidade e avance no cumprimento de metas firmadas durante a COP26.


COPDestaque redondoAlém da urgência de se colocarem em prática promessas governamentais e avançar em compromissos assumidos, a 26ª. Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que ocorre até a próxima sexta-feira (12/11), em Glasgow, na Escócia, tem evidenciado o papel fundamental da engenharia ao enfrentamento da questão – sobretudo a brasileira, dado o papel chave do País na busca por sustentabilidade. O SEESP tem contribuído para as discussões e apresentação de propostas factíveis nessa direção. 
Tal protagonismo é demonstrado em iniciativas e exemplos apresentados desde o início da COP26, como planejamento urbano pensado para reduzir o aquecimento nas cidades, até avanços tecnológicos e investimentos à necessária transição energética e descarbonização do transporte público, com evolução para a eletromobilidade. 
Este último setor é responsável por 25% dos gases de efeito estufa, e se as emissões continuarem elevadas, as cidades correm o risco de esquentar ao nível máximo de 4 oC até o final do século, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ou seja, mais que o dobro da meta de limitar o aquecimento global em 1,5oC para evitar catástrofe climática, como apontado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) em seu Sexto Relatório de Avaliação (AR6), divulgado em 9 de agosto último. Analistas têm afirmado que a COP26 é a última chance. 
Nesse sentido, um guia lançado durante a conferência apresenta iniciativas auspiciosas ao redor do mundo, com métodos e tecnologias ao resfriamento urbano, que incluem corredores verdes e recuperação de rios e afluentes, de modo a minimizar efeito denominado “ilhas de calor”.
De outro lado, o Brasil – cuja comitiva oficial tem se esforçado para reverter a imagem nacional bastante negativa – se comprometeu durante a COP26 em zerar o “desmatamento ilegal” até 2028 e firmou, juntamente com 103 países, esforço para reduzir a emissão do gás metano em 30% até 2030. Contudo, não apresentou ações concretas para alcançar esses objetivos, ao que, mais uma vez, engenheiros, cientistas e pesquisadores precisam ser ouvidos e valorizados. 
Na contramão disso, o Congresso Nacional aprovou no início de outubro proposta do governo de corte de 92% no orçamento para ciência. Para estudos e projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o contingenciamento atingiu 93% nos últimos três anos. 
Além disso, o desmatamento na Amazônia está em níveis alarmantes. A Human Rights Watch afirmou em nota que “embora estimativas preliminares sugiram uma ligeira queda no desmatamento em 2021 em comparação com 2020, a tendência de destruição dificilmente foi revertida.” Conforme a organização, no ano passado, a devastação atingiu 10.800km2, enquanto o Brasil havia já se comprometido com redução para 3.925km2 até 2020. Ao tempo que a COP26 se realiza, de acordo com o Monitor da Floresta, foram derrubadas mais 9 milhões de árvores na Amazônia brasileira.
Outra sinalização oposta é a aprovação de privatização da Eletrobras, cujo papel à transição energética é estratégico. É o que salientou o diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Santa Catarina (Senge-SC) e presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (Abee), José Antônio Latrônico Filho, em reportagem do Jornal do Engenheiro 543: “Daqui a dez ou 15 anos a matriz energética vai mudar e teremos as modalidades chamadas intermitentes – eólica e fotovoltaica. Os grandes reservatórios da Eletrobras, com energia renovável e barata, poderiam complementar tal geração e minimizar o uso das termelétricas, mais caras. Teríamos uma energia 100% verde, podendo usufruir de melhores condições de financiamento internacional.”
Ponto fora da curva em relação a essa questão é ainda o aumento pelo governo brasileiro de subsídios a combustíveis fósseis, que alcançaram R$ 123,9 bilhões em 2020, um total 25% superior ao concedido em 2019. Na COP26, 77 signatários assinaram compromisso de expansão de energia limpa e eliminação do combustível fóssil até a década de 2030 nas maiores economias e até os anos 2040 nos demais países.
O Brasil precisa urgentemente caminhar de fato para além das promessas e, assim, retomar a confiança internacional. Chegando desacreditado à conferência, o País levou a maior delegação oficial – 479 membros. Contudo, esta não engloba sociedade civil organizada e pesquisadores, que se organizam num estande paralelo. É premente ouvi-los e assegurar o protagonismo da engenharia ao enfrentamento das mudanças climáticas. Esse desafio não pode mais ser ignorado.

Murilo Pinheiro – Presidente FNE

Fonte: FNE



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