Recentemente a água potável distribuída aos habitantes do Rio de Janeiro começou a apresentar gosto ruim, forte odor e muita turbidez. Ao que se têm notícias, a Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) não forneceu explicações e muito menos tomou ações necessárias para resolver o problema. O Governador do Estado tratou o assunto quase como se não fosse sua responsabilidade.
O drama persiste a afligir a população à espera de solução e de explicações para suas causas. Contudo, não faltou quem argumentasse que a falha se deve à gestão estatal da empresa. E então surge a receita que vem sem sendo tratada como panaceia universal: privatização. Nesse debate, chama a atenção o desinteresse da mídia em geral em dar voz “aos dois lados”, pois se há os que defendem a entrega de serviços essenciais à iniciativa privada, também existem profissionais qualificados que discordam dessa saída.
Embora apresentada como caminho ao paraíso na Terra, o que se nota nestes anos de privatizações vorazes é que essas visam basicamente refazer o caixa de governos deficitários em curto prazo. Uma visão mais estratégica, contudo, mostraria que tais transações acabam por se mostrar maus negócios, pois em geral os operadores privados não melhoram a qualidade do serviço, não geram empregos ou receita pública.
Tendo em vista os inúmeros insucessos com a privatização do saneamento ambiental no Brasil e no mundo, é de espantar que a cobertura do tema se dê na base do “pensamento único”. Um caso clássico: o serviço de Buenos Aires foi privatizado em 1993. A concessionária privada Águas Argentinas (consórcio liderado pela francesa Lyonnaise des Eaux e pela espanhola Águas de Barcelona), uma experimentada empresa do ramo, acabou praticamente sendo expulsa do país em 2006. A população finalmente se cansou de, após anos de privatização, conviver com dois aumentos contínuos: das tarifas e dos coliformes fecais.
Os engenheiros brasileiros, conhecedores do assunto e comprometidos com o interesse público e a preservação dos recursos naturais e riquezas nacionais, poderiam explicar objetivamente por que entregar o setor ao mercado é atitude suicida, mas seguem ignorados por uma imprensa que parece privilegiar o rentismo.
O Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), com larga tradição no debate do desenvolvimento sustentável e de políticas públicas, conta com mais de 50 mil engenheiros associados. A entidade está certamente à disposição da sociedade e da mídia para contribuir com esse debate essencial.
Cid Barbosa Lima Junior, ex-diretor do SEESP, foi engenheiro da Sabesp. Nestor Tupinambá é diretor desse sindicato e engenheiro do Metrô de São Paulo
Fonte: Jornal do Engenheiro